A VOZ PROFÉTICA DA HUMANAE VITAE E AS MAZELAS QUE NOS CORROEM

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Numa manhã normal em Roma, no final dos anos 1960, um pastor inquieto, tendo diante de si milhões de almas pelas quais a força de sua palavra – e da sua caneta, no caso – tem plena responsabilidade diante do Tribunal Divino, após de uma noite sem dormir, caminhava de um lado a outro da escrivaninha, titubeando um tanto, para enfim, apesar de aflito, tomar a radical decisão de assinar o documento posto à mesa. Aqueles papéis, eram fruto de inúmeras discussões e da análise, muitas vezes controversas, tomadas de diversas comissões que se empenhavam até aquele momento em apresentar argumentos com bases não somente teológicas, mas também científicas, econômicas e sociais.

O teor daquele documento era a causa da inquietação do homem que tinha o poder de ligar e desligar dado pelo próprio Cristo a Pedro, de quem naquele momento era então sucessor. Sabendo que aquela decisão cairia nos próximos anos como uma bomba e provocaria desobediências no clero, destruição de sua reputação, mais ódio à Igreja e evasão de fiéis, num relance de coragem, assinou e mandou publicar aquele documento mais importante da Igreja nos últimos tempos: a Encíclica Humanae Vitae.

Embora o drama acima, seja apenas uma cogitação – O Padre Di Felice, que trabalhou na Secretaria de Estado do Vaticano de Paulo VI, afirmou que quando assinou o documento, o Santo Padre assinou a sua própria paixão, depois de ter passado a noite anterior em oração antes de tomar a decisão – sabe-se que de fato Paulo VI, hoje santo, enfrentou uma das questões mais complexas da história da Igreja desde o Concílio de Trento: a permissão do uso da contracepção artificial pelos casais católicos, frente as crescentes pressões sociais derivadas do crescimento populacional, que trazia dentro de si outras questões subjacentes como a pobreza, a falta de oportunidades, o crescente ingresso das mulheres no mercado de trabalho e o estopim da Revolução Sexual.

Até a publicação desta encíclica, Paulo VI era muito bem visto pela mídia internacional e por vários outros movimentos, especialmente pelo seu papel proeminente no Concílio Vaticano II, este por sua vez, interpretado erroneamente por muitos como um ponto de inflexão na igreja, esta, segundo historiadores, numa leitura dinâmica dos sinais dos tempos, passaria a uma atitude maior “abertura” a outras correntes de pensamento, dando mais poderes de decisão e influência dos leigos e ao valor da consciência individual em contraposição ao clero, inclusive em questões morais.

Em que pese o caráter polêmico do documento, próprio do perfil da Igreja – que segue o caminho do seu Senhor, o qual foi mal compreendido e perseguido pelos poderes do mundo – quase ninguém se dá conta hoje, sobre as palavras proféticas proferidas pelo próprio Santo Padre acerca das consequências decorrentes da contracepção artificial sobre as mentes e a sociedade ocidental. Assim declarou o Sumo Pontífice:
“Os homens retos poderão convencer-se ainda mais da fundamentação da doutrina da Igreja neste campo, se quiserem refletir nas conseqüências dos métodos da regulação artificial da natalidade. Considerem, antes de mais, o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infïdelidade conjugal e à degradação da moralidade […] É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.”

Não é preciso ser um expert em estatística para descobrir que o número de divórcios, abandono de crianças, famílias monoparentais e adultérios vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. É de crer-se que o aspecto mais terrível do uso da contracepção artificial é a “coisificação” das pessoas que passaram a ver no sexo não uma responsabilidade de doação inerente ao mesmo, mas tão somente, um meio de recreação, um brinquedo pelo qual uma criança usa e depois, com o passar do tempo… se cansa e deixa de lado por ter perdido o interesse.

A chaga aberta do divórcio e das crianças que crescem sem a presença de um pai, ou até mesmo, são criados pela família extensa (avós, tios, tias e etc) ou quando não, são abandonados, geram inúmeras consequências das quais as políticas públicas não são capazes de dar conta. Entre outros resultados, daí derivam problemas de drogadição, aumento na criminalidade e do número de pessoas morando nas ruas, sob as marquises, tendo apenas a lua como teto.
A união sexual tem seu caráter unitivo e procriativo, mas a contracepção trouxe como consequência não somente o fim da procriação – vede que nos países de primeiro mundo, já existe o problema do chamado inverno demográfico, que há longo prazo promoverá consequências drásticas devido ao envelhecimento populacional – mas também a destruição do aspecto unitivo propriamente dito.

Pensemos de forma prática como é a vida de uma família constituída pela união sólida de marido e mulher. Ambos se apoiam em tudo e contribuem mutuamente não só entre si, mas com os filhos, em cozinhar, passar, lavar as roupas, acompanhar os filhos nas tarefas, praticar o lazer. Tudo isso trata-se de uma doação para o outro. Quando se perde esse aspecto, gera-se uma cisão, um egoísmo que tende longo prazo, pelo seu próprio caráter, promover a substituição do parceiro por um outro que lhe traga tal como um produto – conforme a teoria econômica dos marginalistas – sua utilidade de consumo até o nível de satisfação, quando novamente será substituído por outro.
Para evitar a gravidez na adolescência e “suprir” a lacuna deixada pelos pais na educação nessa área, agora as escolas se propõem a dar essa formação, como se a sexualidade se tratasse apenas de uma brincadeira de prazer, sem responsabilidade, esta última, restrita apenas às “gestações indesejadas” ou Doenças Sexualmente Transmissíveis.

Pensemos que em outros tempos, antes até mesmo de começar um namoro, os jovens precisavam ter um emprego e uma perspectiva de constituir uma família sólida, hoje em dia, nas salas de aulas se percebem toda espécie de bizarrice e vulgaridades para que os jovens, ao sair da escola – inclusive das ditas confessionais – possam viver na prática aquilo que a teoria lhes mostrou em sala. Para provar isso, basta passar por perto de uma escola no horário de saída – ou até mesmo em horário de aula, em relação aos alunos fugitivos – para ver quantos adolescentes se agarrando pelas redondezas. A partir da mais tenra idade, os jovens são inculcados a agir como animais em busca de prazer, garantindo uma geração inteira que tem como mote a cultura do descarte.

Para coroar de vez a alucinante viagem neste século, não mais podendo negar a “dissonância cognitiva” apreendida nas aulas desde a juventude, todos passam inegavelmente a valorizar atitudes egoístas e utilitaristas da cultura de descarte, levando para as leis o seu costume, garantindo assim o desprezo à vida nascente através do ab0rt0, em nome da felicidade livre das amarras da doação para a próxima geração, e da geração anterior, pela eutanásia. Quando a pessoa sente que ela mesma é um peso para si, pode recorrer ao suicídio assistido… quando quer gerar um filho, porque não recorrer à manipulação de embriões através da Fertilização in Vitro? O que vale é buscar a minha felicidade, diriam.

Em outros anos, qualquer pessoa que se envolvia em pornografia, precisava ter “a cara de pau” de ir até uma banca e comprar as revistinhas ou CDs para garantir a satisfação dos seus desejos, agora, basta um ou dois clicks para ter acesso a toda sorte de vídeos mais baixos possíveis sobre o tema, promovendo uma verdadeira epidemia de viciados, inundados de dopamina proporcionada pelo prazer fácil. Homens que passam a vida inteira acessando este conteúdo, quando decidem se casar, em poucos meses estão cometendo adultério, uma vez que a sua esposa, não tem as supostas perfeições ou qualidades das “modelos” – para usar um eufemismo moderno – apresentadas no mundo virtual, e sempre desejará aquela idealizada nos filmes vistos.
A consequência de tudo isso, faz do homem um ser esquecido de si, de quem ele é e para onde ele deverá ir. Os seres humanos foram feitos para o outro, para servir o outro e não para usar do outro. O que os contraceptivos proporcionaram foi justamente isso, um meio de facilitar o uso do outro e afastar de si a responsabilidade sobre o próximo. Não é à toa que só podemos perceber o esfacelamento total da sociedade que se perde em criminalidade, prostituição, abandono e violência com as crianças, em números jamais vistos – basta ver que a cada o aborto lidera o número de causas de mortes no mundo. Ou ouvimos a voz profética de Paulo VI expressa nessa carta encíclica e recuamos agora, ou transformaremos a ficção do Admirável Mundo Novo em realidade. Quem for capaz de entender, que entenda!


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