Três problemas, uma solução.

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O governo chinês anunciou recentemente um plano de incentivo à natalidade que pagará algo próximo de 500 dólares americanos por ano aos pais para cada filho concebido até que este complete três anos de idade. A medida vai no sentido exatamente oposto à conhecida “one-child policy”, que até recentemente limitava a apenas uma criança a prole das famílias chinesas. Diante de uma taxa de fecundidade inferior a 1 (o mínimo para a simples reposição da população é 2,1) e o rápido envelhecimento da população, a alta burocracia chinesa quer, desde sua torre de marfim em Pequim, solucionar o iminente e seríssimo problema econômico distribuindo dinheiro à moda do nosso Sílvio Santos – ainda que menos generosamente. Poderíamos escrever muitos volumes discutindo o absurdo de um estado moderno determinar a fertilidade de seu povo, de obrigar métodos anticoncepcionais, impor abortos; poderíamos fazer notar a relação de tudo isso com o fenômeno das “missing women of China” (o sumiço das mulheres chinesas) que é atribuído ao fato das famílias – principalmente as mais pobres e as rurais – preferirem os filhos homens por razões econômicas, e assim, ao terem a primeira e forçosamente única menina decidirem-se por jogá-la no lixo, venderem-na a algum contrabandista de pessoas, ou simplesmente matá-la de um modo ou de outro (a diferença demográfica chegou a 118 homens para cada 100 mulheres entre 2002 e 2008 [1], e em algumas regiões chega a 130/100 [2]); poderíamos apontar para a ironia insuportável do movimento comunista, tão zeloso pelos direitos das mulheres em todas as partes do mundo ocidental, onde isso significa apenas a destruição das famílias e a alienação familiar das mulheres, assistir impassível ao “Gendercide” (“generocídio”; união da palavras “gênero” e “genocídio”) das mulheres justamente no pais onde têm pleno poder político.

Por ora, no entanto, vamos nos limitar a tentar compreender as razões que levaram a China a colocar-se nessa situação tão crítica, as razões dessa política de controle da natalidade justamente quando a China ambicionava se tornar uma superpotência econômica e militar, e subjugar os rivais ocidentais, atividades que demandam não apenas uma grande população, mas também uma constante expansão demográfica. Para compreendê-lo temos de nos inteirarmos das imbecilidades típicas de uma época, o que nunca é fácil.

Nada do que ocorre na política mundial de hoje se pode compreender sem levar em conta a atuação dos três grandes esquemas globalistas que disputam a hegemonia internacional desde o começo do século XX: o do grande capital (Clube de Bilderberg, Clube de Roma, etc.), o esquema russo-chinês, e o esquema islâmico. Ora em confronto, ora em aliança de ocasião, sempre avançando porém, cada um a seu modo, na tarefa de estabelecer para si zonas de domínio, influência intelectual, e capacidade de barganha em face dos adversários de sempre: os outros esquemas, os estados nacionais, a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa, e qualquer outra instituição relevante que se ponha no seu caminho; às vezes as combatendo, denegrindo publicamente, ou mesmo, ao contrário, penetrando-lhes as estruturas, corrompendo-as por dentro e por fim transformando-as em uma mera parte de si próprio. Qualquer grande religião do mundo hoje amarga essa realidade pela parte do esquema russo-chinês: não há religião que não tenha lá sua versão da “teologia da libertação”, e só quem não compreende o custo material, humano, e estratégico de se produzir uma farsa dessas dimensões é que julga inverossímil a existência dos esquemas, quem o compreende os toma como realidades necessárias antes mesmo de os conhecer.

O mais curioso é que não é apenas no campo do combate político, ou “material”, que às vezes esses esquemas interferem nos objetivos uns dos outros, também no campo da persuasão e da retórica essas influências às vezes existem, por mais que as lideranças desses esquemas façam o máximo para se informar com o maior realismo, e para neutralizar as ações de seus oponentes. Foi assim que, quando o Clube de Roma, ao publicar os seus primeiros relatórios (Os Limites do Crescimento, 1972; Momento de Decisão, 1975), não apenas inaugurou o “ecologismo” ocidental em toda a sua insânia e fanatismo gnóstico, que hoje se mostra consumado em fatos como todos os cursos de graduação possuírem disciplinas de “ecologia e meio ambiente”, todas as empresas serem obrigadas a sustentar departamentos com o mesmo nome, todos os parlamentos de todos os países promulgarem incessantemente normas e instituírem órgãos de fiscalização cada vez mais draconianos, e mais uma infinidade de coisas do mesmo tipo que nunca passam despercebidas pelo observador sensato. Digo fanatismo gnóstico sem nenhum exagero, e para não me delongar em explicações filosóficas, dou a primeira epígrafe que consta do prólogo do relatório Momento de Decisão (1975), cuja cópia tenho à mão: “O Mundo Está com Câncer e o Câncer é o Homem (A. Gregg)”. Para justificar uma afirmação tão francamente pessimista e antipática, se discute nesse e em outros documentos o fato de que a terra é finita, assim como seus recursos, e a multiplicação do homem enquanto espécie não tem a princípio limites, devendo-se portanto chegar fatalmente ao ponto em que “o planeta não suporta mais seres humanos”. Essa idéia é nova, porém não tanto quanto se pensa, o primeiro a tentar calcular o número máximo de homens a serem sustentados pelo planeta foi Antoni van Leeuwenhoek em 1679, um dos aperfeiçoadores do microscópio (o que talvez já sugerisse algo sobre sua amplitude de visão), que nos pontifica: 13,4 bilhões. Hoje as estimativas variam entre 650 milhões e 98 bilhões, pois cada um tem lá seus critérios próprios de “sustentabilidade” e “bem estar”; outros duvidam mesmo se poderemos algum dia saber usar dos recursos naturais de modo consciente: “Humans do not fully understand Earth’s biological, chemical, and physical responses to past and future perturbations from humans and from nature” (o homem não entende completamente as repostas biológicas, químicas, e físicas da Terra às perturbações passadas e futuras do homem e da natureza) [3]. Todas essas elocubrações estão condensadas no documento “How Many People Can the Earth Support?” de Joel Cohen [4]. É seguindo essa linha de pensamento que, dentro das discussões do Clube de Roma, vários outros autores dão então inúmeras teorias sobre a iminente inviabilidade do trânsito nas grandes cidades, da escassez dos alimentos, dos dias contados do combustível fóssil; todos problemas que, com o passar do tempo e com o natural progresso das tecnologias e dos mercados, e tantas outras intervenções imprevisíveis, se mostram hoje pífios e ridículos; mas é fato que, àquela época, todas as elites ficaram profundamente impressionadas com os relatórios, pensando que suas populações estariam morrendo de fome dentro de poucas décadas.

Foi nesse espírito que, em 1979 (repare-se a proximidade com a publicação dos relatórios) a China implementou sua violenta e desumana política de controle de natalidade. No entanto, agora que o maior parque industrial do mundo vê sua população envelhecendo vertiginosamente, e guerras iminentes exigem sangue jovem, com Taiwan pelo seu flanco, e com o oriente europeu pelo flanco de seu aliado, a Rússia, o governo chinês se vê em um grande apuro, e procura, de modo até ingênuo, incentivar uma geração empobrecida e viciada, desprovida das virtudes essenciais ao patriarcado, a ter filhos, com o atrativo sedutor de oferecer 500 dólares por ano por três anos, num país onde criar um filho até os 17 anos custa em média 75.700 dólares [5]. Um trecho de reportagem nos dá uma boa imagem da China hoje: “Na próxima década, aproximadamente 300 milhões de pessoas, que hoje têm entre 50 e 60 anos de idade, devem deixar a força de trabalho. Esse é o maior grupo etário do país, quase igual à população dos Estados Unidos.” [6]

Sabemos que a China não tem um futuro previdenciário, hoje mesmo seus idosos de mais de 70 anos não ganham qualquer aposentadoria e têm de trabalhar, como podem, para seu sustento. Qualquer economista entende que essa situação só pode se estender por um período muito curto de tempo. Se perguntassem para este humilde observador a sua opinião a respeito do rumo das coisas, ele imaginaria que a única explicação para a atitude da China, que sabe sim fazer contas e muito melhor que nós, é que ela conta com uma solução “heterodoxa”, por assim dizer, a solução que todos os homens de ação de todos os tempos empregaram em tempos de constrição material: a guerra. É uma solução que não está nos manuais da Rockefeller University, nem nos estudos do Clube de Roma, porquanto lá só tem voz uma intelectualidade anêmica de “estudos” e “relatórios”, de bolsas de estudo milionárias, de “garotos prodígio”, desses magricelos americanos que com menos de 30 anos obtêm Ph.Ds de Harvard em “applied mathematics”, mas que como diria Nelson Rodrigues, não sabem dizer “boa noite”; tipos esdrúxulos que vivem a vida toda a publicar teorias que não se confirmam por um único fato, sem que isso diminua a generosidade de seus mecenas científicos ou a influência de suas idéias mirabolantes sobre a massa ignara. Pensam talvez que “o tempo das guerras passou”. Se perguntassem também para este humilde observador a que se deve isso, ele diria que, ainda que alguém nunca encontre uma verdade, se ele é capaz de enganar tanta gente por tanto tempo, e sobretudo o povão ocidental e a elite chinesa, há de ter algum valor – ainda que não intelectual – para alguém.

Foi assim, portanto, que o esquema capitalista ocidental acabou levando o russo-chinês cativo de seu engano; hoje isso parece ter precipitado ainda mais o esquema russo-chinês na direção da guerra, já que a Rússia já transitou para uma economia de guerra, mantém uma operação na Ucrânia, e a China está prestes a invadir Taiwan; guerra para a qual o ocidente não está preparado. E enquanto isso, os povos vêm sendo corrompidos pela anticoncepção, pelo discurso odiento e raivoso contra o homem enquanto senhor da Criação, pela corrupção intencional e consciente das religiões, e tudo o mais que a elite ocidental e comunista fizeram em conluio, enquanto isso a elite muçulmana cata os cacos aqui e ali fazendo já de importantes localidades ocidentais centros islâmicos, e exercendo influência cultural e intelectual cada vez mais importante. Justamente por isso o professor Olavo de Carvalho dizia que, em sua opinião, o esquema islâmico sairia, no fim, vencedor: enquanto vemos claramente, e talvez até para as próximas décadas, o fim inevitável dos outros dois esquemas, o esquema muçulmano, por ter por finalidade e por método o arrebanhamento das almas, só pode falhar no caso de uma reação efetiva, forte, viril, devota, e santa do catolicismo. E quem pode ver algo assim no horizonte de hoje, por mais otimista que seja? O mundo tem hoje três problemas, e a solução está mais escondida do que nunca.

[1] Key facts about China’s declining population | Pew Research Center
[2] Tiefenbrun, Susan (2010-03-17), “Gendercide and the cultural context of sex trafficking in china”, Decoding International Law, Oxford University Press, pp. 347–394.
[3] Can Earth support 4 billion people sustainably and well? – N-IUSSP
[4]229bCohenHowManyPeopleCanEarthSupportNewEthics4PublicHealthOUP1999.pdf
[5] China offers parents $1,500 in bid to boost births
[6] China’s ageing population: A demographic crisis is unfolding for Xi


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