A sexualidade irresponsável e outros vícios que precedem o fim de uma sociedade
“Com o seu múltiplo emprego, a absoluta confiança que suscita as inexauríveis possibilidades que promete, a técnica moderna desenvolve em torno do homem contemporâneo uma visão tão vasta que leva muitos a confundi-lo com o próprio infinito” (Radiomensagem de Natal do Venerável Papa Pio XII, 1953)
O ano é 476 e a cidade de Roma, após inúmeros ataques dos povos bárbaros oriundos da Europa Oriental, finalmente cai sob o poder dos seus assaltantes marcando fim da chamada Idade Antiga e abrindo a Idade Média. A história, porém, não pode negar que foi graças à Igreja Católica que a sociedade ocidental não foi desapareceu por completo, uma vez que o trabalho de evangelização e a luta de bravos monges nos mosteiros, para preservar toda a cultura que até então havia sido implantada, não permitiram um fim trágico a tudo que fora construído até então.
O Cristianismo de fato foi o baluarte e o “sal da terra” que preservou o decadente Império de cair definitivamente nos vícios que o levariam inevitavelmente à própria destruição. Como nos dias atuais, os cristãos sofreram inúmeras perseguições por causa de sua fé e irrepreensível luta pela verdade de Cristo. Logo nos primeiros anos, a fé dos discípulos colidiu com a tirania do Grande Estado Imperial, o qual pretendia criar uma Religião Universal e sincrética oriunda dos vários povos conquistados, e que teria seu ápice no Pantheon Romano, onde as várias divindades dos povos conquistados eram cultuadas indistintamente.
Os cristãos, para gozar de liberdade deveriam prestar um culto não somente ao Deus único, mas também ao Imperador, que passou a ser tratado com um deus entre aqueles do cânon oficial do Império. Seu ato de submissão consistia no oferecimento de incenso ao deus Imperador. Muitos cristãos não fizeram isso, pois sua fé não permitia a idolatria; a partir de então, passaram a ser duramente perseguidos e, em seguida, jogados aos leões, touros e ursos, fazendo parte de um espetáculo de terror dentro das arenas romanas.
A dignidade da vida humana e a liberdade de consciência não entravam no rol das garantias sociais romanas, e isso pode ser constatado pelo hábito do povo em geral, que consistia em se acotovelar nos estádios para assistir espetáculos de carnificinas nas arenas, sendo a maioria das vítimas compostas de cristãos. A conquista dos povos e a escravização proporcionaram facilidades aos cidadãos romanos e com elas o ócio. Não raro, as festas duravam mais de uma semana contendo sempre massacres de inocentes em arenas para entreter os participantes.
O ócio também gerou uma série de vícios no que diz respeito à sexualidade e à alimentação. Para que se tenha uma idéia da magnitude dos excessos, muitas das casas dos romanos eram equipadas com um compartimento conhecido como “vomitório”, onde as pessoas podiam se esbaldar em glutonarias e regurgitar o banquete, para retornar à mesa em uma nova sessão de comilança. O divórcio era prática comum, assim como o adultério; da mesma forma, a homossexualidade e a morte de crianças deficientes e dos idosos desvalidos que se difundiu em todo o Império.
Os cristãos eram culpados de todas as desgraças que aconteciam com os cidadãos romanos e muitos boatos foram criados para ridicularizá-los ou acusá-los de diversos crimes com afirmações absurdas, como por exemplo, o de praticarem infanticídio ao se afirmar que se alimentavam do Corpo do Filho de Deus. A virgindade era incompreensível aos romanos e muitas mártires deram seu testemunho preferindo a morte a negar os votos que fizeram de tornarem-se esposas de Cristo. Atualmente, os cristãos sofrem a mesma perseguição e calúnia, que os trata como ignorantes e assim reduz seu papel na sociedade.
A população romana foi aos poucos erodindo por conta dos vícios sexuais, reduzindo por conseqüência sua população; já não havia outro meio de manter as imensas fronteiras do vasto Império senão fazendo alianças com os povos bárbaros que lá viviam. Aos poucos, foi perdendo a sua força até ser dominado completamente por outros povos, e sua cultura gradativamente pulverizada pelos novos ocupantes de suas terras, que só não chegou ao fim graças aos cristãos dispersos em todo o território e aos corajosos monges que preservaram as obras da inevitável devastação.
Neste tempo atual, a facilidade dos meios de comunicação e o avanço científico vem proporcionando níveis de bem-estar inimagináveis à maior parcela da população. A facilidade do sexo, a produção em massa de alimentos e bebidas que acarretam redução de preço, juntamente com o bombardeio das propagandas e do consumismo, produzem uma sensação de infinito ao homem moderno. O sexo pode ser obtido em qualquer lugar, e não está mais necessariamente vinculado à geração da prole “graças” ao desenvolvimento dos métodos de contracepção; e caso estes venham a falhar, podem-se encontrar disponíveis métodos abortivos. Toda essa facilidade proporciona sexo sem compromisso, quantas vezes o indivíduo desejar e da forma que o quiser.
O Grande Estado não é mais o Império Romano, mas a ONU e seus asseclas, geralmente tendo por trás de si um sem número de fundações milionárias que conquistaram status de poder para dirigir o mundo com seus ideais. Procura-se criar uma religião única, com obrigatória adesão de todos, e já existe na sede da ONU em Nova York um Pantheon onde é possível “adorar” divindades do mundo inteiro. A homossexualidade é difundida dentro das escolas e na sociedade, e aqueles que não se submeterem a ela por conta de sua fé correm o risco de ser punidos severamente.
A Igreja Católica, a mesma que ajudou a preservar a cultura da qual os ocidentais se beneficiam, é ridicularizada e caluniada nos meios de comunicação, fazendo-se do cristão, em muitos locais, um ser sem voz. Aquele que se levanta para defender o inocente no ventre materno é taxado de “obscurantista” e “carola”, reduzido a cidadão de segunda classe, o qual deve se submeter ao Poder do establishment e oferecer o seu “incenso” de conivência com os anseios da sociedade moderna que pretende ser “progressista”.
Como antes, é preciso ser firme apesar das circunstâncias. Os cristãos venceram e conseguiram preservar a cultura do Ocidente decadente. Mais uma vez, serão os católicos fiéis, defensores da vida e da família que irão preservar a cultura da vida que sustentou o Ocidente por muitos séculos. Os meios de comunicação jogam baixo e muitos cristãos estão deixando se levar por eles. É preciso restaurar a vontade de estudar e pensar, justamente os pilares da Cultura Ocidental que garantiram a dignidade do ser humano quando ela estava decaindo. Mais uma vez, sobe o grito de um dos maiores lutadores da preservação da cultura cristã ocidental contemporânea, São João Paulo II: “levantai-vos, vamos”!
Juliano Antonio Rodrigues Padilha – Economista e Coordenador do Núcleo de Estudo e Formação da Casa Pro Vida Mãe Imaculada