A queda da masculinidade e suas consequências

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A testosterona, hormônio fundamental para o desenvolvimento e manutenção das características masculinas, incluindo a função reprodutiva, tem demonstrado uma tendência preocupante de declínio nas últimas décadas, independentemente do envelhecimento individual [1, 2]. Essa diminuição progressiva, influenciada por uma complexa interação de fatores ambientais e de estilo de vida, levanta sérias questões sobre a saúde masculina e, crucialmente, sobre a capacidade reprodutiva.

Diversas linhas de pesquisa apontam para uma combinação de fatores como os principais contribuintes para essa queda nos níveis de testosterona:

* A Onipresença dos Disruptores Endócrinos (EDCs): Substâncias químicas sintéticas encontradas em plásticos (ftalatos, bisfenol A), pesticidas, herbicidas, produtos de higiene pessoal (parabenos) e revestimentos de latas têm a capacidade de interferir no sistema endócrino, mimetizando ou bloqueando a ação dos hormônios, incluindo a testosterona [3, 4]. A exposição contínua a esses compostos pode prejudicar a produção testicular de testosterona e afetar a qualidade do esperma.

* O Impacto do Estilo de Vida Moderno:

* Sedentarismo e Obesidade: A crescente prevalência da obesidade, especialmente a gordura visceral, está associada a níveis mais baixos de testosterona. O tecido adiposo contém a enzima aromatase, que converte testosterona em estradiol (um tipo de estrogênio) [5]. Além disso, a inflamação crônica ligada à obesidade pode afetar negativamente as células de Leydig, responsáveis pela produção de testosterona [6]. A falta de atividade física regular também contribui para essa diminuição, já que o exercício, principalmente o de força, estimula a produção hormonal [7].

* Dieta Não Otimizada: Uma alimentação rica em alimentos processados, açúcares refinados e gorduras não saudáveis, e pobre em nutrientes essenciais como zinco e vitamina D, pode comprometer a função testicular e a síntese de testosterona [8].

* Estresse Crônico e Sono Insuficiente: Níveis elevados de estresse crônico levam à liberação aumentada de cortisol, um hormônio que pode inibir a produção de testosterona [9]. A privação crônica de sono também demonstrou reduzir significativamente os níveis hormonais masculinos [10].

* Possíveis Influências da Exposição a Campos Eletromagnéticos (CEM): Embora a pesquisa ainda esteja em andamento, alguns estudos sugerem uma possível ligação entre a exposição prolongada a CEM emitidos por dispositivos eletrônicos e a diminuição da testosterona e da qualidade do esperma [11]. No entanto, são necessárias mais investigações para confirmar esses achados.

Como a Diminuição da Testosterona Afeta a Reprodução Masculina:

A testosterona desempenha um papel crucial em diversos aspectos da reprodução masculina:

* Produção de Espermatozoides (Espermatogênese): A testosterona é essencial para a produção de espermatozoides saudáveis e em quantidade adequada nos testículos. Níveis insuficientes desse hormônio podem levar à oligospermia (baixa contagem de espermatozoides) ou até mesmo à azoospermia (ausência de espermatozoides no ejaculado), dificultando ou impossibilitando a concepção natural [12].

* Qualidade do Esperma: A testosterona também influencia a motilidade (capacidade de movimento) e a morfologia (forma) dos espermatozoides. Níveis baixos podem resultar em espermatozoides com menor capacidade de alcançar e fertilizar o óvulo.

* Libido e Função Erétil: Embora a reprodução possa ser tecnicamente possível com níveis mais baixos de testosterona em alguns casos, a diminuição hormonal frequentemente leva à redução da libido (desejo sexual) e a disfunção erétil (dificuldade em obter ou manter uma ereção), impactando a frequência e a efetividade das relações sexuais para fins reprodutivos.

* Desenvolvimento e Manutenção dos Órgãos Reprodutores: A testosterona é fundamental para o desenvolvimento e a função normal dos órgãos reprodutores masculinos, incluindo os testículos, o epidídimo, os ductos deferentes e as glândulas acessórias. A deficiência hormonal pode afetar a maturação e a função desses órgãos.

Implicações para o Futuro

A tendência de diminuição da testosterona na população masculina, se continuar, pode ter implicações significativas para a fertilidade masculina em nível populacional. Casais podem enfrentar maiores dificuldades para conceber, levando a um aumento da procura por tratamentos de fertilidade. Além disso, a saúde geral dos homens também pode ser afetada, com um maior risco de desenvolver outras condições associadas à baixa testosterona, como osteoporose, perda de massa muscular e alterações de humor.
É crucial que a pesquisa continue a investigar as causas subjacentes dessa tendência e que medidas sejam tomadas para reduzir a exposição a disruptores endócrinos e promover estilos de vida mais saudáveis. A conscientização sobre os potenciais impactos da diminuição da testosterona na reprodução masculina é o primeiro passo para enfrentar esse desafio crescente.

Referências:
[1] Travison, T. G., Araujo, A. B., O’Donnell, A. B., Kupelian, V., & McKinlay, J. B. (2007). A population-level decline in serum testosterone levels in American men. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 92(1), 196-202.
[2] Andersson, A. M., Jensen, T. K., Juul, A., Petersen, J. H., Jørgensen, N., & Skakkebaek, N. E. (2004). Secular trend in male reproductive health. Human Reproduction Update, 10(1), 3-15.
[3] Gore, A. C., Chappell, V. A., Fenton, S. E., Flaws, J. A., Nadal, A., Prins, G. S., … & Zoeller, R. T. (2015). EDC-2: The Endocrine Society’s second scientific statement on endocrine-disrupting chemicals. Endocrine Reviews, 36(6), E1-E150.
[4] Swan, S. H., & Colino, S. (2021). Count Down: How Our Modern World Is Threatening Sperm Counts, Altering Male and Female Reproductive Development, and Imperiling the Future of the Human Race. Scribner.
[5] Cohen, P. G. (2014). The hypogonadal–obesity cycle: a vicious circle. Medical Clinics of North America, 98(6), 1473-1488.
[6] Dandona, P., Dhindsa, S., Chandel, V., Ghanim, H., & Chaudhuri, A. (2010). Hypogonadotropic hypogonadism in obese men is secondary to decreased Leydig cell testosterone secretion. Metabolism, 59(8), 1151-1159.
[7] Hayes, L. D., Bickerstaff, G. F., & Baker, J. S. (2010). Interactions of cortisol, testosterone, and resistance training: influence of circadian rhythms. Chronobiology International, 27(4), 675-705.
[8] Fallah, A., Mohammad-Hasani, F., & Colagar, A. H. (2018). Zinc is an essential element for male fertility: a review of Zn roles in spermogenesis, sperm quality, and fertilization. Journal of Reproduction & Infertility, 19(2), 69-81.
[9] Cumming, D. C., Wheeler, G. D., & McCall, W. D. (1986). The effect of acute exercise on pulsatile release of luteinizing hormone in women athletes. The American Journal of Obstetrics and Gynecology, 155(4), 709-712.
[10] Leproult, R., & Van Cauter, E. (2011). Effect of 1 week of sleep restriction on testosterone levels in healthy young men. JAMA, 305(21), 2173-2174.
[11] Agarwal, A., Kesari, K. K., & Agarwal, R. (2016). Cell phones and male infertility: a review of recent evidence. Reproductive Biology and Endocrinology, 14(1), 1-12.
[12] Matsumoto, A. M. (2004). Clinical implications of the decline in serum testosterone levels with aging in men. The Journal of Gerontology. Series A, Biological Sciences and Medical Sciences, 59(1), 76-84.


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