O fim dos sofrimentos humanos: a falsa promessa da cultura da morte

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A Cultura da Morte já é uma realidade bastante arraigada em nosso mundo, porém, quem se depara com esta terminologia a primeira vez, pode até mesmo confundir o conteúdo e não compreender a amplitude deste conceito. Na verdade, foi São João Paulo II quem trouxe luz a este conceito que foi muito abordado durante seu longo pontificado. Em linhas gerais, Cultura da Morte, trata-se de toda prática que promove a eliminação de seres humanos, ou ainda, que se opõe ao cultivo da vida e é aceita como algo normal ou parte mesma da condição humana. Tem sua raiz nos regimes totalitários que conseguiram capturar as consciências – vide o terror nazista – em prol de um objetivo de poder mais amplo. Para o Papa Polonês, essa Cultura é expressa hodiernamente na permissão legal e social de práticas como: ab0rto, eutanásia, suicídio assistido, educação sexual desordenada, mutilação, controle de natalidade, bem como toda forma conhecida de exploração, seja ela sexual ou material.

No entanto, é interessante procurar dentro desse mecanismo nefasto, o que o mantém em funcionamento, ou ainda, em quais princípios essa Cultura de Morte se apoia para obter tanta adesão sem uma resistência significativa em muitos lugares. Se formos a fundo nessa questão, logo descobriremos que além das ideologias predominantes e que fornecem a base para esta prática social, as mais proeminentes são aquelas que prometem um paraíso nesta terra, livre de toda sorte de sofrimentos, como se este último não fosse parte constitutiva e inerente ao próprio ser humano.

Além das propostas utópicas que nunca alcançaram êxito, notadamente o mundo belo e igualitário apresentado pelos comunistas ou a terra “sem males” constituída pela raça humana refinada e superior conforme proposta pelos nazistas, que longe de melhorarem as relações humanas, geraram ao contrário os maiores conflitos registrados pela história humana, percebe-se que muitos ainda aspiram como nunca, a esperança do mundo perfeito e livre do peso do sofrimento, apesar de todos os horrores e atrocidades cometidas na história em prol desse ideal.

No século passado, várias obras de ficção predisseram situações que se tornaram prática comum atualmente, abordo duas em especial: O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e O Senhor do Mundo de Robert H. Benson. Na primeira, o destaque é um romance vivido num mundo controlado por um Estado Totalitário que encarna o bem-estar social e que incentiva o culto ao prazer, às drogas e às relações sexuais desvinculadas da procriação e da constituição de uma família. Nessa sociedade, um dos fatos mais interessantes e a inexistência de pessoas idosas ou doentes graves, já que quando as potências da vida iam decaindo, as pessoas tinham direito a recorrer ao suicídio assistido, sempre que optassem por tal.

No que se refere à obra do Padre Benson – que por sinal era uma das favoritas do falecido Papa Emérito Bento XVI – essa ainda mais antiga, dos primeiros anos do século XIX, destaca-se o surgimento de um governo anti-cristão que oferece à população uma felicidade sem limites e livres das “amarras” religiosas e morais. Nesse contexto, surge o personagem Padre Franklin, que para combater essa ideologia imperante que levaria o mundo a uma “desumanização”, se ergue ao lado de um pequeno número de fiéis para criar a Ordem de Cristo Crucificado, e contrapor a cultura dominante de abominação dos sofrimentos humanos, propondo os métodos de ascese, abnegação e renúncia para deter a avalanche hedonista.

Acabei trazendo à tona estas duas obras para observarmos que nas famosas distopias do século XIX, o contexto proposto é sempre o mesmo: um mundo sem sofrimentos que faz com que as pessoas deixem de pensar na realidade ao redor e entreguem sua liberdade e suas vidas nas mãos do Estado, o que só é possível quando se dissemina na sociedade a perspectiva de uma vida pautada em sensações agradáveis, na qual se confunde felicidade com prazer. Não há como ter uma vida somente de prazeres e todo prazer vai requerer de alguma forma, um sacrifício ao seu termo, pois onde ele termina, também inicia o sofrimento, o problema é como uma sociedade sadia irá lidar com essa verdade inevitável.

Vejamos alguns exemplos de como esta cultura analgésica, que já saiu do âmbito da ficção, está modelando as leis e a ética em geral: com relação ao ab0rt0, por exemplo, um dos argumentos mais aceitos e disseminados é aquele pelo qual se afirma que uma criança nascerá pobre ou deficiente e sofrerá ou fará a mãe sofrer, então, o melhor é que ela nem venha a este mundo. Há quem diga ainda, que trazer crianças a esse mundo exige demais e causam muitos problemas, então, o melhor é ter pets que causam menos problemas. Viver casado até a morte é muito difícil, quando o amor começar a “esfriar”, as dificuldades de relacionamento surgirem, ou aparecer alguém mais atraente é preciso garantir o divórcio. Um idoso dá trabalho e não sente mais os prazeres da vida jovem, o melhor é acabar com esse sofrimento antes que piore. Quem nunca escutou estes mantras do mundo moderno?

Enfim, tal como o Padre Benson propunha em sua ficção, também é precisa ir à realidade, o sofrimento é parte inseparável da vivência humana e não há como escapar, e esta realidade sempre estará ligada à responsabilidade em relação à vida que é um dom dado a Deus para nós a ser entregue aos outros, não para ser guardado em si mesmo como pretende a cultura egoísta atual. Infelizmente, um mundo que já abandonou a Deus e a cruz de Cristo, é escandaloso propor a inevitabilidade dos sofrimentos, mas ainda que um grupo legislador queira destruir seus efeitos, ele continuará lá. A destruição da cultura da morte, passa inescapavelmente pela humildade de aceitar a realidade e seus efeitos, mas será que essa sociedade estará disposta a abrir mão das possibilidades para abraçar o sofrimento?

 

Juliano Antonio Rodrigues Padilha – Coordenador do Núcleo de Estudo e Formação da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada


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