Células-tronco e o ponto de vista católico.

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No início do século XXI, no Brasil, estudos com células-tronco passaram a ganhar força com a expectativa de regeneração em células de vários tecidos, possibilitando aplicações terapêuticas conduzidas às doenças neurológicas degenerativas, cardiovasculares, doenças hematopoiéticas.

As células-tronco são células capazes de autorrenovação, isto é, multiplicam-se e permanecem em sua condição indiferenciada, além da competência dessas células em divisão e diferenciação de diversos tipos de tecidos, como ossos, sangue, nervos, músculos entre outros. Existem três tipos principais de células-tronco, a embrionária, a adulta e induzida.

As células-tronco embrionárias ou pluripotentes , são originárias da massa celular do embrião e necessitam encontrar-se no estágio de blastocisto (4 a 5 dias de fecundação), pois numa fase posterior a 5 dias o embrião já possui estruturas especializadas como coração, sistema nervoso em desenvolvimento, deixando de ser uma célula-tronco, essas células podem originar-se em qualquer tipo de célula adulta.

As células multipotentes ou células-tronco adultas são constituídas do meio de células já diferenciadas, ou seja, na fase adulta. Encontram-se  na medula óssea, no sangue do cordão umbilical e na medula espinhal de um adulto. É relevante destacar que temos um pouco de células-tronco em cada órgão para renovação ao longo da vida, entretanto são menos modificáveis, mas têm grande potencial em reparar tecidos e órgãos danificados.

Em 2007, a partir da pele, foram produzidas as primeiras células-tronco de pluripotência induzida IPS (do inglês induced pluripotents stem cells). Essas células provêm da reprogramação de uma célula adulta, através da inserção de vetores virais; essa reprogramação acontece a partir dos genes do vírus que se adentram ao DNA da célula adulta e reprogramam o código genético da mesma, retornando assim, ao seu estágio de célula pluripotente, ou seja, com uma alta capacidade de proliferação como as células-tronco embrionárias. Ainda que pareça muito promissora, há controversia, pois são necessárias células-tronco embrionárias pra realização de comparações, o que não muda a questão ética que envolve este tema.

A Lei de Biossegurança Brasileira (Lei nº 11.105, de 24.03.2005), relata a permissão dentro de algumas condições, para a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas com a finalidade de cura para determinadas doenças graves. Porém, a condição é que sejam embriões de até 5 dias que sobraram do processo de fertilização in vitro, sendo inviáveis para a implantação (ou seja, não tenham a possibilidade de se desenvolver efetivamente) e/ou que estejam congelados há pelo menos três anos, e com o consentimento dos genitores. É importante deixar claro que se trata de células-tronco embrionárias onde é necessária a destruição dos embriões para a realização da pesquisa, ou seja, a lei brasileira está permitindo matar uma vida humana para supostamente beneficiar outros.

Agora que entendemos um pouco de cada célula-tronco existente, podemos compreender o posicionamento do Magistério da Igreja e a razão em entrar neste debate. Ainda que estejamos dentro de um segmento científico, não pode haver uma ciência cega, sem princípios morais, pois a vida humana não é um simples objeto de manipulação.

A Igreja se pauta sempre  pela dignidade da vida humana. Sendo assim, as células-tronco adulta expressam vários fatores positivos: não apresentam problemas éticos, é comprovada sua efetividade em diversas doenças degenerativas e não colocam em risco a vida humana. Já células-tronco embrionárias exercem grande capacidade de proliferação, podendo ocasionar um crescimento anormal de células (tumor), e ainda, a utilização de embriões humanos em pesquisas científicas, com a sua consequente destruição é uma forma de aborto. Nesta questão, a Igreja não parte de dogmas de fé, mas sim a defesa da vida, assinalada pela própria ciência como tento seu início na fecundação. Corrobora com a inviolabilidade da vida  humana o fato de sermos criados à  imagem e semelhança de Deus.

A esta evidência de sempre (…) a ciência genética moderna fornece preciosas confirmações. Demonstrou que, desde o primeiro instante, se encontra fixado o programa daquilo que será este ser vivo: uma pessoa, esta pessoa individual, com as suas notas características já bem determinadas. Desde a fecundação, tem início a aventura de uma vida humana, cujas grandes capacidades, já presentes cada uma delas, apenas exigem tempo para se organizar e encontrar prontas a agir (Encíclica Evangelium Vitae n.60)”.

Concluímos que a utilização de embriões para estudos científicos, mesmo que sejam por motivos ditos humanitários, apontam grandes problemas éticos, entre outros, o uso de pessoas para possivelmente ajudar outras pessoas (como se uma pessoa fosse mais importante que outra), a aceitação da ideia que os fins justificam os meios, a comercialização da vida, a manipulação laboratorial da vida, o aborto. Contudo ética e ciência precisam caminhar juntas para assegurar que os avanços médicos/científicos não aconteçam interferindo em vidas humanas existentes. A igreja se mostrou a favor das células-tronco adultas por sua eficácia e ética comprovada e é totalmente contrária ao uso de células-tronco embrionárias pelos motivos expostos, sendo último um grave atentado contra a vida e à vontade de Deus.

Christien Dayane Oliveira

Biomédica CRBM: 3218-PR

Referências:

“As células estaminais e o futuro da terapia regenerativa” Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_academies/acdlife/documents/rc_pont-acd_life_doc_20060916_sgreccia-staminali_po.html  Acesso em Junho de 2020.

XII ASSEMBLEIA GERAL DA PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_academies/acdlife/documents/rc_pont-acd_life_doc_20060322_xii-gen-assembly-final_po.html  Acesso em Junho de 2020.

CANÇÃO NOVA. O que a igreja diz sobre o uso de células-tronco. Vida humana, p.1, 2014. Disponível em: <https://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida/o-que-a-igreja-diz-sobre-o-uso-de-celulas-tronco/> Acesso em Abril de 2020.

IPCT. Células-tronco. Instituto de pesquisa com células-tronco, p.1, 2013. Disponível em: < http://celulastroncors.org.br/celulas-tronco-2/> Acesso em Abril de 2020.

ZORZANELLI, R.T., SPERONI, A.V., MENEZES, R.A., LEIBING, A. Pesquisa com células-tronco no Brasil: A produção de um novo campo científico. Hist. cienc. saude-Manguinhos, 24 (1):  129-144. Jan-Mar, 2017.

 

 


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