A VOZ PROFÉTICA DA RECENTE DECLARAÇÃO DIGNITAS INFINITA
A VOZ PROFÉTICA DA RECENTE DECLARAÇÃO DIGNITAS INFINITA
No último dia 2 de abril, Oitava da Páscoa, a Igreja na pessoa do Sumo Pontífice e da Congregação para a Doutrina da Fé, presenteou o mundo com mais um importante documento que ilumina o contexto mundial e reforça o ensinamento da Santa Igreja acerca de inúmeros temas, bastante polêmicos, que são tratados de forma muito superficial pela mídia secular. Trata-se do documento Dignitas Infinita, ou Dignidade Infinita, uma declaração que sobretudo, denuncia as formas modernas de supressão da dignidade humana e reforça a importância do respeito a cada pessoa, independente da circunstância.
O objetivo desse documento é ressaltar que cada ser humano, pelo caráter indelével de sua natureza criada à imagem e semelhança de Deus, ser composto de inteligência e vontade, possui uma dignidade incomparável em relação às demais criaturas, e que não pode ser suprimida ou modificada de acordo com as circunstâncias em que se encontram. Filosoficamente, esta declaração denuncia a cultura do relativismo, do subjetivismo e do utilitarismo humano, reforçando o caráter objetivo do conceito de ser humano, cujo reconhecimento não pode ficar limitado a algum fator externo, daí o termo que deu nome ao presente documento, para fazer ressaltar o caráter infinito do conceito de dignidade humana.
Dentre os vários pontos a serem destacados no referido documento, queremos fazer menção aqui neste artigo, àqueles que se referem diretamente à defesa da família e da vida desde à concepção até seu fim natural.
No ponto 45, ao tratar da dignidade das mulheres, ressalta-se a cultura hedonista moderna que faz do seu corpo, principalmente entre os jovens, mero objeto de satisfação do prazer e que afasta a pessoa do sentido profundo da sexualidade, além de denunciar o aborto, como uma das piores formas de exploração da mulher e da legalização do chamado “poliamor”, que contradiz totalmente a dignidade da união conjugal. A propósito, há um capítulo totalmente dedicado a tratar do tema do aborto (ponto 47), fazendo especial menção – algo bastante inédito num documento da Igreja – aos eufemismos, que se escondem sob nomes como “interrupção da gravidez”, com o objetivo tentar tornar esta prática mais “aceitável” e menos digna de repressão.
A prática moderna e abominável também conhecida como “barriga de aluguel”, derivada especialmente da disseminação da reprodução assistida, não deixou de ser denunciada (pontos 48 a 50). Nessa oportunidade, se ressaltou o uso do ser humano como mero objeto de desejos ou como um falso “direito ao filho”, que persiste na mentalidade moderna, usada especialmente pelas duplas homoafetivas, que pela sua própria natureza não podem gerar filhos a não ser pela manipulação humana mediada por esta prática.
Mais à frente, o documento denuncia a eutanásia e o suicídio assistido (51 e 52), que a exemplo do aborto, também se utiliza de um eufemismo absurdo para tornar tal prática mais tolerável, sob o nome de “morte digna”, ressaltando que o sofrimento e a dor, não diminuir ou relativizar o valor do ser humano, e que a morte não é a melhor saída para o sofrimento, ainda que a pessoa acometida de um mal incurável assim o deseje.
Por fim, há denúncias contundentes à famigerada Ideologia de Gênero, bem como às cirurgias de mudança de sexo (pontos 55 a 60), reafirmando a postura pastoral da Igreja em relação ao acolhimento dos homossexuais, mas reforçando a sua posição doutrinal imutável neste assunto, não se admitindo meias verdades, uma vez que a diferença entre os sexos é inerente ao ser humano e compõe justamente a capacidade de que Deus dotou o gênero humano ao fazer o homem e a mulher, chamando-os a colaborar, cada um, de acordo com o seu valor, na obra da criação, especialmente na geração da vida. Inclusive, no ponto 59 há um forte apelo contra a imposição desta ideologia nas escolas.
É possível dizer que um documento como este, em que se esclarece e reforça a doutrina católica sobre inúmeras questões em discussão nestes tempos, era muito desejado e esperado pelos fiéis do mundo inteiro, especialmente diante das circunstâncias mais recentes, considerando as contradições e polêmicas em torno de outros documentos como a encíclica Amores Laetitia e a declaração Fiducia Supplicans. No entanto, alguns pontos ainda poderiam ser destacados e aproveitados, como a questão da contracepção artificial; os meios de reprodução assistida, que foram tratados de forma superficial; bem o direito individual de escolha, livre da coação ou restrições de direitos, para aqueles que por objeção de consciência se recusam a se submeter a determinado tratamento médico ou aos imunizantes. Em que pesem estas observações, pode-se fazer um balanço muito positivo deste documento, a se avaliar também pela repercussão do mesmo.
Juliano Antonio Padilha – Coordenador do Núcleo de Estudo e Formação da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada