A ditadura do pensamento único é o retrato perfeito das universidades brasileiras
“Assim como o médico é dito causar a saúde no enfermo através das operações da natureza, assim também o mestre, é dito causar a ciência no discípulo através da operação da razão natural do discípulo, e isto é ensinar” Santo Tomás de Aquino
Ser um universitário que tenha pensamento diverso daquele definido pelo establishment vigente nos centros acadêmicos tornou-se um verdadeiro desafio. Ousar levantar ideias que contrariam o consenso predominante pode ser até mesmo um martírio moral. Atualmente os professores, geralmente com base em informações tendenciosas, não economizam palavras para acusar a Santa Inquisição de controlar, durante a Idade Média, o pensamento do povo. Mas eles mesmos não se dão conta da “patrulha ideológica” da qual fazem parte, que pretende impor aos alunos um pensamento unificado.
Há muita verborragia quando se trata de levantar injúrias à censura que a Igreja supostamente promoveu ao longo do tempo, principalmente no que diz respeito aos dogmas, que não admitem discussão e contestação por parte dos fiéis, etc. Não é pretensão deste artigo tratar da concepção errônea que a sociedade moderna possui sobre dogmas católicos. Retomando o raciocínio estabelecido no início, é sabido que os historiadores sérios, que se pautam em dados primários, tais como Regine Pernoud e Franco Cardini, esclarecem que nesta época, ao contrário do consenso, sempre reinou o livre debate com objeções.
A evolução do conhecimento durante a Idade Média era pautada em debates. Vejam-se por exemplo as famosas “questões” em Santo Tomás de Aquino, para as quais os alunos apresentavam um tema a discutir, do qual provinha a objeção e depois a conclusão. O objetivo do debate sempre foi a busca pela verdade, e isso não foi exclusivo do período medieval. Já no século IV da Era Cristã, Santo Agostinho promovia disputas entre divergentes, expressamente provado na sua famosa obra Contra os Acadêmicos.
Com a decadência das universidades já na Idade Média, surgem ideólogos como Guilherme de Ockham; a partir de então, a busca pela verdade começa a ser ignorada e o ambiente universitário torna-se presa fácil da ambição de poderosos que perceberam o potencial difusor de ideias. Toda esta longa história iniciada no período medieval vai atingir o seu cume com as propostas de John Dewey, que bebeu das fontes pré-marxistas, especialmente de Hegel e Fichte, definindo que objetivo da educação deve-se pautar para a práxis, a qual passa a ser instrumentalizada para servir ao mercado ou grupo de interesse. O ser humano passa então a ser visto não mais como um ser que busca a verdade, mas como uma peça de engrenagem que busca, com o seu ser, aperfeiçoar os métodos.
As grandes fundações surgidas no início do século XX, especialmente a Fundação Rockefeller, passaram a investir em programas de assistência social e educacional, de modo que o ambiente acadêmico começou a difundir as ideias dos seus financiadores. Este fato provocou um cisma até mesmo dentro do conselho administrativo da Fundação, quando da saída de um dos seus co-fundadores, o Pastor Frederick Gates. Ele percebeu a tendência do financiamento e a chantagem econômica que vinha sendo aplicada no âmbito acadêmico. Quando o governo americano deu conta da magnitude do problema, criou uma Comissão de Inquérito para analisar o esquema de controle exercido pelas fundações nas Universidades; a conclusão desta Comissão foi documentada no chamado Relatório Kissinger. As grandes corporações usam então do sistema de punições e recompensas para manipular pensamentos.
Nas universidades brasileiras o problema é grave! Quando se trata de realizar seminários ou outros eventos, sempre são convidados especialistas em áreas que atendam aos interesses do establishment criado. Até mesmo em universidades “católicas” essa estratégia é usada. Recentemente, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) foi realizado um seminário sobre aborto. Neste evento, a palestrante, notadamente comprometida com a legalização do procedimento, discursou sem abertura para qualquer ideia contrária de um especialista. Tornou-se comum que as palestras e seminários universitários abordem apenas a ideia única de legalização do aborto, drogas, “direitos” gays, educação estatal, etc, sem o convite de nenhum palestrante que apresente convicções ou argumentos contrários, a fim de que os alunos pudessem ponderar as diferentes ideias e escolher melhor o caminho a seguir.
O resultado de tudo isso é o que se observa como reflexo na sociedade: jovens que ingressam nas universidades com uma fé e se formam sem nenhuma crença ou com várias adaptadas pelo sincretismo. A explicação que dão para isso é a de que as universidades ajudam o ser humano a “evoluir” e deixar de “crendices” ou “superstições”. Mas, se não se dá oportunidade aos alunos de participarem de um debate onde um ateu e um teólogo tomista possam expor livremente suas ideias, como esperam que os alunos tenham outra escolha? A sociedade só não sucumbiu numa descrença completa estabelecida por uma ditadura de pensamento único porque muitos jovens vêm buscando informações que transcendem o sistema universitário, seja em livros, documentários e debates nos meios informais de educação para construir seu pensamento, fazendo justamente aquilo que escolásticos pretendiam. Fora das universidades, os jovens encontram por si mesmos o conhecimento, incentivados pela busca de algo mais, o que é louvável, uma vez que a verdade tem a peculiaridade de que só pode ser encontrada, nunca ensinada.
Juliano Antonio Rodrigues Padilha – Economia e Coordenador do Núcleo de Estudos e Formação da Casa Pró Vida Mãe Imaculada