A POLÊMICA DO “TRISAL”: HÁ JUSTIFICATIVA PLAUSÍVEL PARA O “POLIAMOR”?

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O Ocidente está enfrentando um período de transição sem precedentes na história no que tange à cultura e sobretudo, no que diz respeito às relações sociais, pelo solapamento gradativo dos pilares que o constituíram. Existem dados e fatos abundantes a demonstrar que tais mudanças não se fizeram de uma forma espontânea, mas planejada, com vistas a atingir objetivos específicos de controle no comportamento humano e social, compondo aquilo que ficou conhecido como Engenharia Social.

Poucos dias atrás, o noticiário apresentava um agrupamento formado por um homem e duas mulheres, denominado pela mídia de “trisal”, realizando um ensaio fotográfico da gestação de uma das mulheres. A reportagem trazia as fotos das três pessoas em seu “book”, com a transcrição de algumas frases dos membros, em declarações carregadas de jargões bastante conhecidos e batidos sobre “criar a criança sem preconceitos e aberta a novos tempos”, ou do tipo: “queremos incentivar os curiosos a serem felizes”, temos um “relacionamento fechado entre nós três” e etc. O grupo faz sucesso nas redes sociais apresentando sua rotina e procurando “quebrar tabus” tradicionais.

Nos comentários, algumas pessoas de boa vontade – mas bem inocentes, diga-se de passagem! – tentavam até justificar esse novo agrupamento a partir da Bíblia, afirmando que no Antigo Testamento a poligamia era permitida, ou ainda, que não é possível julgar a questão no presente tempo, e deste modo, no decorrer do tempo, a questão pode se demonstrar viável ou não para quem sabe assim, num futuro próximo, se legitimar essa modalidade de união e etc. Este artigo pretende apresentar alguns fundamentos, sem pretensão em exauri-los, para contrapor a propaganda que se faz a respeito do famigerado “poliamor”, seja pela luz da razão natural, seja através revelação cristã, que são as duas bases da ação e do intelecto católico.

Partindo da Revelação Divina, com vistas a impedir interpretações equivocadas – daqui a importância do que a Igreja Católica sempre defendeu, em condenar a livre interpretação das escrituras fora do ensinamento da Igreja – é preciso compreender que o Antigo Testamento, era uma fase preparatória ou uma figura, daquilo que atingiria a sua plenitude com a vinda do Cristo. Ao ser interpelado sobre a questão do divórcio, Jesus afirma que esta prática foi tolerada, pela dureza do coração do povo, mas que no princípio não era assim (Mc 10,5-6). A monumental obra de São João Paulo II, conhecida como a Teologia do Corpo, ensina que ao assim afirmar, Cristo pretendia restaurar o casamento e transformar o mesmo, naquilo que ele era desde o princípio, ou seja, uma unidade de amor em que o homem e a mulher deixarão seu pai e sua mãe, para se tornarem “uma só carne”.

No princípio Deus não fez duas mulheres para Adão, nem fez dois homens para Eva, nem formou várias pessoas para praticarem entre si um “swing”. Ademais, é óbvio que Cristo veio ao mundo para libertar a humanidade da sua condição de pecado, dando-lhe a graça naquilo que antes era impossível realizar por si mesmo ou suportar. Cristo propôs um aperfeiçoamento na lei mosaica, ressaltando o caráter do Direito Natural, ou da Lei Eterna e perene, inscrita no coração do homem como inerente à moral, e a partir da qual, cada ser humano, crente ou não, pode seguir os desígnios do criador. Cristo além disso, eleva o matrimônio à condição de sacramento, dada sua natureza sagrada e inviolável, como Deus o fez antes da queda no paraíso.

Logo após o pecado dos primeiros pais, Deus inicia aquilo que chamamos de “economia da salvação”, ou seja, dos meios para realização da restauração da ordem quebrada pela desobediência humana. De Abraão, faz uma aliança com um único povo e no Novo Testamento – perceba que muitas vezes o escritor sagrado, utiliza-se do termo ”Deus ciumento”, quando Israel se vende aos ídolos, e este é por sua vez, chamado de infiel quando se entrega à idolatria – ao escolher os 12 apóstolos, dos quais, os 12 patriarcas geradores das tribos, eram apenas figura, reestabelece a nova aliança, com uma única Igreja fundada sobre este grupo. A partir disso, São Paulo pode interpretar o mistério da Igreja equiparando-o ao matrimônio, afirmando que Cristo morreu pela Igreja e se uniu unicamente a ela, daí o caráter indissolúvel do matrimônio como paralelo à Igreja.

Passando pelas razões de ordem natural acerca do assunto, mister se faz iniciar a argumentação da maneira que segue: não é possível que uma pessoa ame duas outras, da mesma forma ao mesmo tempo – no aspecto conjugal, pelo menos não – e não foi à toa que Cristo falando a respeito da idolatria do dinheiro afirmou isso. O amor é uno e indiviso, e na questão do “trisal” em tela, é impossível se entregar a duas pessoas, com duas personalidades diferentes e dizer que as ama com a mesma intensidade. É próprio da natureza humana ser diferente, não há como amar duas pessoas diferentes com a mesma intensidade.

A disposição natural do corpo humano, demonstra que o corpo do homem foi feito para a mulher e vice-versa, os órgãos genitais só se compreendem na sua complementariedade, ou seja, eles perdem a razão de ser, caso não existisse o outro – daí a questão da solidão original de Adão, até que Deus constituísse a mulher como ser semelhante a ele – e esta conexão por si, é motivo para demonstrar que os órgãos foram feitos para unir-se a apenas uma pessoa.

Há que se ressaltar ainda que quando Cristo institui o matrimônio, ele o fez para ser único, indissolúvel e fiel. Único, representando o amor de Deus por um único povo e de Cristo por uma única Igreja; indissolúvel porque garante estabilidade e apesar da infidelidade de uma das partes, o amor por ser infinito, não se desfaz, assim como Deus amou e buscou Israel sempre apesar de suas diversas traições e por fim, é fiel porque o amor não se divide, a não ser que busque uma satisfação momentânea como acontece nos diversos casos de adultério.

É possível ter bom senso e perceber que este tipo de união, fundada sobre a areia, tende logo a ruir. Se uma pessoa não é capaz de garantir fidelidade a uma outra única, como será capaz de manter a duas, três ou quatro, ou seja, como diria Aristóteles, um pequeno erro no início, se torna grande no final. Os casais cristãos que são fiéis, tendem a garantir maior estabilidade no casamento apesar dos diversos problemas que o compõem e este fato é garantia aos filhos de unidade e felicidade. O ser humano, diferente dos animais, não se desenvolve por si logo após o parto, mas necessita de uma comunidade estável que lhe ajude a sobreviver tanto em termos materiais quando para perceber o sentido da vida. Existem abundantes pesquisas que demonstram a importância de um lar estável para a geração de cidadãos bons à sociedade e com boa saúde mental. Por fim, não é possível legitimar essas uniões e sequer justificar biblicamente ou racionalmente o “poliamor”, infelizmente, somente numa sociedade em retrocesso moral, dada a cegueira intelectual das pessoas, é possível para alguns, conviver em consciência tranquila com essas novas formas de união. Que sociedade vamos construir com sobre a areia da premência das sensações passageiras sobre a razão?

Juliano Antonio Rodrigues Padilha – Economista, especialista em Finanças e Controladoria, e em Orçamento Público. Coordenador do Núcleo de Estudos e Formação da Casa Pró Vida Mãe Imaculada.


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